Nas áreas do coaching e do desenvolvimento pessoal, fala-se muito da importância do autoconhecimento, mas habitualmente do ponto de vista da pessoa que está a passar pelo processo.
Hoje, quero trazer-lhe uma perspetiva um pouco diferente. Quero mostrar-lhe como o autoconhecimento não é só sobre nós, mas também sobre aqueles que nos rodeiam e, sobretudo, sobre os relacionamentos que queremos criar com essas pessoas.
Lembro-me bem dos últimos dias antes de me ter despedido do meu trabalho como designer.
Já não me identificava com aquilo que estava a fazer e, muito menos, com como o estava a fazer.
O trabalho era distribuído pela equipa sem grande critério, com prazos apertadíssimos e o feedback nem sempre era dado com rigor e isenção.
Comecei então a sentir dificuldade em distinguir o que eram críticas ao trabalho do que era pessoal.
A desmotivação crescia a cada dia.
Era cada vez mais difícil levantar-me para ir trabalhar.
Não concordava com os métodos de trabalho, nem com determinadas atitudes que punham em causa o bem-estar da equipa.
E, aos poucos, o meu copo foi enchendo.
Por mais que procurasse encontrar explicações racionais para o que acontecia à minha volta, não estava a conseguir lidar com a situação.
Até que, um dia, numa reunião de rotina, me entregaram 2 projetos em simultâneo, exatamente com o mesmo prazo.
Argumentei, mostrando que seria humanamente impossível entregar um bom trabalho naquelas circunstâncias, mas nenhum dos responsáveis cedeu.
Sabe aqueles momentos em que sentimos que, se queremos mudar alguma coisa, é agora ou nunca?
Naquele instante, senti-me num momento assim.
Então, quando percebi que nenhum dos responsáveis pelos projetos ia ceder e que iam manter os dois o mesmo prazo, dei um murro na mesa.
Literalmente.
E disse: “Eu não vou fazer o trabalho assim. E agora, o que é que acontece?”
Toda a equipa que estava presente na reunião olhou para mim.
Depois, olharam para os responsáveis.
Que reação iriam ter?
Mas eles não tiveram qualquer reação. Não naquele momento. Foram completamente apanhados de surpresa.
Aos olhos deles, eu era aquela pessoa que quer corresponder às expectativas e que faz tudo para o conseguir. E até tinham razão.
Mas todos temos o direito de nos fazer valer do nosso poder pessoal quando sentimos que estão a ultrapassar os nossos limites.
E foi isso que eu fiz.
Conclusão: fiquei com um dos projetos e uma parte de outro, mas despedi-me pouco tempo depois.
Aquele momento serviu para me pôr à prova e mostrar a mim mesma que eu sou importante.
Mas quer saber como é que tive este discernimento?
A verdade é que não o consegui sozinha. Nessa altura, já estava a fazer um processo de terapia que me ajudou muito com o meu autoconhecimento e iniciei um processo de coaching que me ajudou muito a ter força e coragem para a minha mudança.
Enquanto conhecia cada vez melhor as minhas necessidades, forças e fragilidades, percebia a importância do autoconhecimento para me sentir bem, comigo e com os outros, e ganhava ferramentas para avaliar a forma como determinadas situações me faziam sentir e o que estava ao meu alcance fazer para me libertar delas e criar novas circunstâncias para a minha vida.
Hoje, sei que o problema naquela fase da minha vida não era o trabalho, nem sequer as pessoas com quem eu trabalhava.
O problema era eu não construir relacionamentos saudáveis em que fosse capaz de estabelecer limites e fazê-los cumprir.
O problema era eu ainda não saber qual era a importância do autoconhecimento para criar uma vida em que me sentisse bem, realizada e feliz.
O autoconhecimento como guia na tomada de decisão
O autoconhecimento é como uma bússola interna que nos guia ao longo da vida, em cada decisão que tomamos, em cada comportamento que temos – connosco e com os outros.
Conhecermo-nos é explorarmos o nosso mundo interno de forma intencional. As nossas tendências e padrões. Aquilo que nos faz bem – e o que não. Aquilo que é importante para nós – e o que não.
E, com essa informação, fazer escolhas alinhadas com o que desejamos para a nossa vida, escolhas que nos beneficiem a médio e longo prazo.
Nestas escolhas incluem-se, naturalmente, o tipo de relacionamentos que escolhemos ter com quem nos rodeia.
Porque só quando assumimos a importância do autoconhecimento para o nosso bem-estar e nos disponibilizamos a fazer esse caminho – de dentro para fora – é que conseguimos criar relacionamentos mais fortes, autênticos e saudáveis.
E só assim vamos ser capazes de nos sentir realizadas, felizes e tranquilas nas diferentes áreas da nossa vida.
Acredito que de nada serve investirmos no nosso autoconhecimento para nos mantermos fechadas numa concha. Somos seres sociais, precisamos de nos relacionar para estarmos bem.
Foi por isso que, no início deste artigo, lhe disse que queria trazer-lhe a perspetiva de que o autoconhecimento não é importante só para nós como seres individuais, mas também para os nossos relacionamentos, sejam eles pessoais ou profissionais.
É sobre isso que lhe vou falar em seguida.
A importância do autoconhecimento nos relacionamentos
Imagine agora a Ana (o nome é fictício, mas podia muito bem ser uma das minhas coachees), uma profissional dedicada que se esforça por dar sempre o seu melhor, uma mulher que está sempre pronta a ajudar tudo e todos e que gosta de ser reconhecida pelo que é e pelo que faz.
Ultimamente, a Ana anda a sentir-se cansada.
As exigências profissionais e pessoais misturam-se e, por mais que tente equilibrar as diferentes áreas da sua vida, dá por si assoberbada, irritada, zangada e com as emoções à flor da pele.
A Ana já fez algum trabalho de autoconhecimento, sempre por conta própria, mas nesta fase quase nada parece fazer com que se sinta melhor – consigo e com os outros.
Ao mais pequeno comentário, em casa ou no trabalho, sente-se criticada e, para não desabar nem perder o controlo das suas emoções, evita confrontos e conversas difíceis.
Apesar do cansaço, a Ana diz que sim a tudo, só para não defraudar aquilo que ela pensa serem as expectativas dos outros, nem ter de se justificar.
Com isto, sente-se cada vez mais distante dos que a rodeiam, desmotivada até nas mais pequenas coisas e desconectada de si própria, em constante piloto automático.
Mas não é isto que a Ana quer.
A Ana quer-se sentir envolvida e reconhecida. Quer saber que o que faz importa, acrescenta.
Isto é válido, não é?
Mas o que pode a Ana fazer para que isto aconteça?
O que eu faria no lugar da Ana
Para que a Ana saia deste círculo vicioso de piloto automático em que se encontra, vai ter de começar pelo básico. Ou seja, vai ter de dar um passo atrás e começar por olhar para si, para o que sente e para o que precisa e ver-se, tal como está, nesta fase da sua vida.
E, desta vez, de forma mais profunda. Com coragem e a confiança de que, do lado de lá desse processo de autoconhecimento, está a vida leve, tranquila e alegre que gostava de ter. De nada adianta insistir em fazer o caminho de autoconhecimento sozinha se continua a andar em círculos.
Quando nos permitimos mergulhar no nosso autoconhecimento, com o acompanhamento sério, próximo e dedicado de um profissional que nos apoie, esclareça e encaminhe, começamos a perceber que o reconhecimento que esperamos dos outros tem de começar por nós.
É quando vemos o nosso valor que esse valor se torna visível para os outros.
É quando compreendemos as nossas emoções – e as suas causas – que ganhamos competências para nos expressarmos com clareza e assertividade.
Mas não é só.
Ao termos um entendimento mais claro sobre as nossas próprias nuances emocionais, desenvolvemos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. E esta nova perspetiva, não só nos proporciona uma visão mais nítida das emoções e das necessidades dos que estão à nossa volta, como também nos permite comunicar com eles de forma mais eficaz.
A importância do autoconhecimento é, afinal, também fazermo-nos perceber, com menos insistência e menos esforço.
E, assim, aos poucos, com a aplicação de ferramentas e estratégias práticas que a sua coach lhe pode passar, onde antes havia lugar para o conflito e o sentimento de crítica, passa a haver empatia, assertividade e respeito.
A base para relacionamentos fortes, autênticos e saudáveis, seja em que contexto for.
Resumindo…
Neste artigo, falei-lhe sobre a importância do autoconhecimento e como ele vai além do âmbito individual, influenciando também os relacionamentos que cultivamos. Partilhei também consigo a minha experiência pessoal e como o autoconhecimento me permitiu estabelecer limites, agir de acordo com os meus valores e, depois, ultrapassar uma situação de mudança de carreira.
Na segunda parte do artigo, focámo-nos na aplicação prática do autoconhecimento nos relacionamentos com o caso da Ana, uma profissional dedicada que se sentia assoberbada e desconectada de si e dos que a rodeavam. A compreensão profunda de si mesma e das suas emoções permitiu à Ana mudar a sua abordagem aos relacionamentos, passando do desgaste e da desmotivação para a construção de relacionamentos empáticos e saudáveis.
Podemos, então, concluir que o autoconhecimento é a base para relacionamentos fortes, autênticos e saudáveis. Ao reconhecermos o nosso próprio valor, compreendermos as nossas emoções e desenvolvermos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, criamos um ambiente propício à empatia, à colaboração e ao respeito.
No fundo, o autoconhecimento, quando desenvolvido com profundidade e seriedade, pode ser o desbloqueador de que precisa para construir relacionamentos enriquecedores – em casa e no trabalho – e, assim, alcançar a vida plena, realizada, leve e feliz que tanto procura.
Já tinha pensado no autoconhecimento como potenciador das suas relações pessoais e profissionais?