Já deu por si a pensar “Se estou a errar, estou a falhar”? Ou, então, “Se já sei que não vai ficar como desejo, nem vale a pena começar”? Se sim, é possível que seja alguém com uma grande tendência para ser perfecionista e que, por isso, sem se aperceber, está a deixar passar oportunidades que a fariam feliz. Já pensou nisso?
Mas não se preocupe, porque é possível aprender a gerir melhor o seu perfecionismo e encontrar formas de dar o melhor de si, de preferência sem se esgotar em busca de algo que não passa de uma falácia do sucesso.
Neste artigo, vai ficar a saber o que é o perfeccionismo e como é que ele a está a limitar. Vai ainda aprender a identificar os sinais de perfecionismo e algumas das formas como ele se manifesta no seu dia a dia.
Por fim, vou deixar-lhe 9 dicas para deixar o perfecionismo de uma vez por todas e começar a viver a sua vida por inteiro e sem medos.
O que é o perfecionismo?
O perfecionismo não é apenas a busca pela excelência ou o desejo de ser e fazer melhor.
Perfecionismo é sujeitar-se (e possivelmente aos outros) a padrões irrealisticamente elevados – padrões que dificilmente poderá atingir e que a levam a estar em constante comparação com aquilo que os outros são ou fazem.
O perfecionismo assume diferentes formas, dependendo de pessoa para pessoa, mas há algo comum a todas.
O perfecionismo impede-as de viverem a sua vida ao máximo.
As pessoas perfecionistas sentem, intrinsecamente, uma enorme necessidade de serem perfeitas, de nunca falharem, e este sentimento assenta na crença enraizada de que têm de atingir os seus objetivos de forma simples e fácil, sem cometerem quaisquer erros pelo caminho.
E, mais importante ainda, fazem depender o seu valor daquilo que são ou não capazes de alcançar. Ou seja, se conquisto muito, tenho muito valor. Se conquisto pouco, tenho pouco valor.
E isso não faz sentido, pois não? Mas é esta suposição que faz com que perfecionismo e excelência sejam muitas vezes confundidos.
Perfecionismo Vs Excelência
A atenção aos detalhes é uma competência a valorizar. Contudo, excelência e perfeição são coisas distintas.
A excelência é a busca pelo melhor possível num determinado momento, em função dos recursos e das circunstâncias. A busca pela excelência é, então, uma forma saudável de se destacar da maioria, baseando-se no crescimento pessoal e na melhoria contínua, permitindo erros pelo caminho.
Já por outro lado, o perfecionismo coloca a fasquia num patamar inatingível, criando expectativas irrealistas que não admitem a mais pequena falha ou imperfeição, provocando dificuldades na tomada de decisão pelo medo de fazer uma escolha errada.
Assim, podemos dizer que a excelência é compassiva, enquanto o perfecionismo é implacável e redutor.
Então, como é que podemos distinguir perfecionismo de excelência no nosso dia a dia?
Vou ajudá-la a validar se tem ou não características de uma perfecionista. Tome nota da forma como se sente e reage em situações que a colocam fora da sua zona de conforto e tire as suas conclusões.
A seguir, apresento-lhe 7 sinais de alerta a que deve estar atenta.
Sinais de perfecionismo
1. Recrimina-se quando erra
É muito difícil para si recuperar de uma falha, mesmo que não tenha impacto na sua vida. Sente vergonha quando faz algo menos bem e culpa-se por cometer um erro, relembrando incessantemente os episódios que não correram como desejava.
2. Trabalha demais
Os resultados nunca são suficientes para si, por isso, o tempo de descanso é um desperdício. Para si, o mérito depende dos resultados que consegue obter e está sempre a exigir mais de si mesma.
3. Tem um cuidado extremo com os detalhes
Quando tem de entregar algum trabalho ou está a preparar algo que sai ligeiramente daquilo a que está habituada, preocupa-se em garantir que tudo está no sítio certo e que não há margem para erros, de forma a evitar que algo não corra como deseja.
4. Preocupa-se com a opinião dos outros
O medo de sofrer uma rejeição ou que os demais não vejam em si o que esperam, em muitos casos, faz com que atue de acordo com a forma como acredita que será aceite pelos outros e não de acordo com quem realmente é.
5. É altamente responsável
Os seus altos níveis de exigência conduzem-na a ser uma pessoa muito responsável perante as tarefas que precisa de fazer. Acredita que o seu sentido de responsabilidade lhe vai garantir que faz um bom trabalho e que, assim, será aceite e valorizada pelos que a rodeiam.
6. Sente necessidade de verificar constantemente o trabalho dos outros
Sente que precisa de ter o controlo sobre tudo e todos à sua volta, pois só assim pode garantir a qualidade de tudo o que faz, pessoal e profissionalmente, de acordo com os padrões de exigência irrealistas que define.
7. Procrastina
Adia tarefas que tem em mãos até ter a certeza de que possui o que precisa para as realizar com perfeição. O seu medo do fracasso impede-a de colocar os seus planos em ação, adotando a postura “Se não consigo fazer perfeito, nem vale a pena começar.”.
Mas, na verdade, este medo de cometer erros impede-a de crescer.
O problema do perfecionismo e porque é que ele a está a limitar
Por vezes pode não ser claro, mas na verdade o perfecionismo impede-a de evoluir. Mantém-na no mesmo lugar e impede-a de arriscar.
O medo de errar é por vezes tão bloqueador e paralisante que, no final, mantém-se no mesmo lugar. Inconscientemente, sem se aperceber, está numa posição confortável e sobre a qual tem controlo e onde o risco de errar é diminuto.
A possibilidade de errar coloca-a frente a frente com as suas fragilidades e com os seus medos e isso pode ser assustador.
Contudo, dar pequenos passos para enfrentar os seus medos poderá ser a única alternativa para ultrapassar aquilo que a impede de avançar em direção à vida que quer para si.
Além disso, o perfecionismo é como um monstro devorador para o qual nada é suficiente. Não importa o quanto já tenha conseguido alcançar ou o quão perfeito for tudo aquilo que faz. O perfecionismo pede-lhe sempre mais e mais.
Depois de uma meta, vem outra. Depois de uma correção, vem outra, numa espiral que, muitas vezes, acaba com projetos inacabados ou sonhos que nunca saem da gaveta.
E, enquanto isso, o perfecionismo rouba-lhe as alegrias da vida quotidiana – a capacidade de desfrutar dos seus sucessos, aceitar os seus erros, mostrar autenticidade e conectar-se com outras pessoas.
Então, agora que sabe o que é o perfeccionismo e quais os sinais a que deve estar atenta, o que pode fazer para evitar que o perfecionismo continue a impedi-la de fazer aquilo que quer e gosta?
9 Dicas para deixar de lado, de uma vez por todas, o perfecionismo
1. Aceite que o seu perfecionismo está a tentar ajudá-la (mas não está)
Algumas pessoas podem ter uma predisposição natural para o perfecionismo, mas, geralmente, pelo menos parte do seu perfecionismo é uma tentativa de lidar com os desafios, seja uma vida pessoal ou profissional caótica ou por acreditar que é inferior.
O perfecionismo é uma resposta ao medo de sermos vistos tal como somos, humanos e imperfeitos.
E, quando finalmente aceitamos que a imperfeição faz parte da vida, começamos a ver os erros e os falhanços apenas como possibilidades de aprendizagem.
2. Afaste-se de pensamentos negativos
Como perfecionista, é natural que tenda a concentrar-se nas coisas negativas. Nota mais rápida e facilmente as suas faltas e fracassos, nunca os seus pontos fortes e sucessos.
Para o evitar, sempre que se aperceber de um pensamento negativo em relação a si ou a outros, procure substituí-lo por uma abordagem positiva.
Por exemplo, se sente que o relatório que entregou não estava perfeito, congratule-se pelo facto de o ter entregado dentro do prazo previsto.
3. Foque-se no processo e não no resultado
Para os perfecionistas, os resultados (perfeitos) são muito importantes. Então, experimente substituir os resultados finais por metas intermédias.
Divida os seus projetos em diferentes fases e foque-se em cada uma delas individualmente.
4. Adote uma mentalidade de aprendiz/principiante
Ao posicionar-se como alguém que está numa fase de aprendizagem, retira de si o peso de ter de fazer tudo bem à primeira. Afinal, está a aprender.
Ninguém aprendeu a andar ou a ler de um dia para o outro, pois não? Foram precisas várias tentativas até conseguir.
Por isso, acolha o “(ainda) não sei tudo”. Porque, na verdade, se desistir de algo em que ainda não é boa só porque é difícil e desconfortável, então nunca vai melhorar. Pelo contrário, se se permitir ser imperfeita, há margem para melhoria e crescimento.
5. Avalie o verdadeiro risco de não ser ou fazer perfeito
Qual é o pior que pode acontecer se as coisas não resultarem de acordo com as suas expectativas? Será assim tão grave quanto imagina?
6. Resista ao impulso de fazer mais, corrigir, editar ou refazer
Como perfecionista, pode perder muito tempo a aperfeiçoar coisas que não precisam de ser perfeitas. É possível que se sinta obrigada a trabalhar incessantemente para conseguir mais, a fazer as coisas com perfeição e a ser tudo para todos.
Estabeleça o seu padrão realista de “bom o suficiente” e mantenha-o por perto para lhe servir de guia.
7. Acabe com a comparação com os outros
A comparação com os outros nunca traz nada de bom. Agarrada a ela vêm sempre sentimentos de insuficiência e desresponsabilização.
Por isso, use como termo de comparação aquilo que fez hoje em relação ao que fez ontem e anteontem. Compare-se só consigo mesma.
8. Mantenha uma atitude positiva
Adote uma perspetiva positiva perante as situações. Treine a sua autoconsciência e a sua inteligência emocional e aprenda a rir-se de si própria e das suas imperfeições. Não há ninguém no mundo que seja perfeito. Todos temos falhas. Todos.
9. Viva no presente
Pratique atividades que a ajudam a trazer a atenção para o momento presente, como exercício físico, meditação, trabalhos manuais, journaling… Evite o multitasking e elimine as distrações quando se quer focar em determinada atividade.
Agora que já sabe um pouco mais sobre o perfecionismo e o que pode fazer para lidar com ele, há algo muito importante que gostava que guardasse: seja gentil consigo durante este processo.
Espero que este artigo tenha sido útil para si. Se este for um tema do seu interesse ou se se tiver identificado com alguns dos sinais de perfecionismo que lhe deixei, deixe-me o seu comentário ou envie-me um email. Terei todo o gosto em conversar um pouco mais consigo sobre este assunto.